SETE TESES
CONTEMPORÂNEAS E SEUS DESAFIOS TEOLÓGICOS:
UMA ANÁLISE
HERMENÊUTICA
Dr. Gustavo Maders de Oliveira
Bacharel em Teologia, Mestre e Doutor em Missiologia
As seguinte teses são propostas por Evandro Moretti,
no vídeo:
https://youtube.com/shorts/MLVlGyYRHqc?si=jSUS2WcMPB1UZvJY
1ª - Casal amasiado não tá no pecado . O 1º casamento civil ocorreu no Brasil em 1890.
2ª - A Bíblia não é a Palavra de Deus – Jesus é a Palavra, o Verbo, conforme João 1.
3ª - Igreja não é prédio, é gente. Igreja não é um lugar pra ir, mas algo pra ser.
4 ª- Inferno, não existe. Não existe a palavra inferno nos textos origiais.
5ª - Israel atual não tem nenhum papel na redenção, seu papel terminou em Cristo.
6ª - Dízimo não é pra igreja, mas para os levitas do Templo.
7ª - Jesus não é evangélico – salvação for da igreja, porém não fora de Cristo.
A seguir apresento um artigo teológico,
em linguagem acadêmica e fundamentação bíblica, analisando
criticamente as sete proposições fornecidas. Não assumo
cada afirmação como verdadeira em si mesma, mas as trato como teses
teológicas a serem examinadas, discutidas e enquadradas
dentro de uma perspectiva hermenêutica responsável e historicamente
informada.
Introdução
O pensamento teológico cristão atravessa, ao longo da história, constantes revisões, tensões e releituras que procuram responder a contextos culturais, filosóficos e linguísticos distintos. Em tempos de grande circulação de ideias e discursos religiosos, surgem proposições que desafiam paradigmas tradicionais e convidam a comunidade teológica a um exame rigoroso, bíblico e histórico. Este artigo propõe uma análise crítica de sete teses frequentemente defendidas em ambientes teológicos contemporâneos, avaliando seus fundamentos, consequências doutrinárias e desafios hermenêuticos.
1. Sobre o Casamento e a Acusação de Pecado em Relações Amasiadas
A tese afirma que “casal amasiado não está em pecado” porque o primeiro casamento civil no Brasil ocorreu apenas em 1890. De fato, o casamento civil é uma construção jurídica moderna; entretanto, a moral bíblica não se fundamenta na história jurídica brasileira, mas na compreensão da aliança, da fidelidade e do compromisso público entre um homem e uma mulher.
No Antigo Testamento, o casamento era reconhecido pela família, pela sociedade e pelo ato público da união, não por cartórios. A questão teológica, portanto, não é o civil em si, mas se existe ou não aliança, compromisso, exclusividade e reconhecimento público.
A simples união informal pode ser expressão legítima de um casamento? Em certos contextos, sim. Pode também ser simples coabitação sem aliança? Também pode.
A questão é mais moral do que burocrática: a Escritura condena imoralidade sexual (porneia), não a ausência de cartório. A tese, portanto, toca num ponto real, mas sua aplicação exige critérios bíblicos mais profundos.
2. A Bíblia Não é a Palavra de Deus: Jesus Como o Verbo (Jo 1)
Teologicamente, João 1 identifica Cristo como o Logos eterno, a revelação perfeita do Pai. Em sentido ontológico, apenas Jesus é a Palavra eterna de Deus. Contudo, historicamente a Igreja utiliza “Palavra de Deus” para designar também as Escrituras, não como sujeito divino, mas como testemunho inspirado (2Tm 3:16).
Assim, a tese é parcialmente correta:
Sim, somente Cristo é a Palavra viva e pessoal.
Sim, a Bíblia é testemunho inspirado que aponta para o Logos.
Não, isso não significa que a Bíblia deixa de ser Palavra de Deus em sentido funcional.
A distinção é útil, mas não deve ser usada para diminuir a autoridade das Escrituras.
3. A Igreja Não é Prédio: Eclesiologia Bíblica do Povo Chamado
A tese é amplamente correta. A palavra ekklēsia significa “assembleia”, “congregação”, “povo convocado”. O Novo Testamento define a igreja como:
o corpo de Cristo (1Co 12)
a casa espiritual (1Pe 2:5)
o templo do Espírito (Ef 2:21-22)
A redução da igreja ao prédio é um empobrecimento eclesiológico. Contudo, a comunidade cristã sempre precisou de espaços para reunir-se. O problema não é ter um prédio, mas transformá-lo em essência da igreja.
A tese é bíblica, mas precisa evitar o antiinstitucionalismo, que é outro extremo.
4. “Inferno Não Existe”: Uma Questão de Tradução e Hermenêutica
É verdade que não existe a palavra “inferno” nos textos originais. Temos:
Sheol (hebraico): lugar dos mortos, não necessariamente de punição.
Hades (grego): equivalente grego do Sheol.
Geena (grego): vale de Hinom, metáfora de juízo.
Tártaro (grego): lugar de prisão espiritual.
Logo, “inferno” é um termo teológico-tradicional, não bíblico-original. Mas isso não elimina a doutrina do juízo final, nem do destino daqueles que rejeitam a Deus, que aparece com força no Novo Testamento (Mt 25:46; Ap 20).
A tese é linguisticamente correta, mas teologicamente incompleta: pode levar à negação total do juízo divino, o que os textos não permitem.
5. O Papel de Israel na Redenção: Cumprimento e Continuidade
A tese afirma que Israel atual não tem papel na redenção. Biblicamente:
Cristo é o cumprimento da promessa feita a Israel (Rm 10:4; Ef 2:14-16).
O povo de Deus é agora composto de judeus e gentios unidos em Cristo (Ef 2).
A salvação não está ligada à etnia ou ao Estado moderno de Israel.
Por outro lado, Romanos 9–11 afirma que Israel, como povo, ainda tem um mistério relacionado ao plano de Deus, embora não no sentido de mediação salvífica. Ou seja:
O “Israel bíblico” tem relevância teológica.
O “Estado de Israel moderno” não possui papel redentivo.
A tese acerta na crítica ao sionismo teológico, mas simplifica uma discussão mais ampla.
6. O Dízimo como Instituição Levítica
De fato, o dízimo no Antigo Testamento era direcionado aos levitas, que não possuíam terra (Nm 18). No Novo Testamento, não há mandato para a igreja gentílica pagar dízimo; o princípio passa a ser:
generosidade
proporcionalidade
voluntariedade (2Co 9:7)
Assim:
A tese é histórica e biblicamente correta.
Contudo, igrejas podem adotar o dízimo como prática administrativa, desde que não o tratem como mandamento mosaico obrigatório.
7. Jesus Não é Católico e nem Evangélico: A Salvação Está em Cristo, Não em Denominações
Aliás, quando nesta Terra, Jesus era judeu. A tese destaca que Jesus não pertence a rótulos denominacionais e que a salvação pode estar “fora da igreja, porém não fora de Cristo”. Trata-se de uma crítica à identificação exclusivista entre instituição e salvação.
Teologicamente:
A salvação é em Cristo, não na denominação (At 4:12).
A igreja é resultado da salvação, não sua fonte.
Denominações são construções históricas, não determinações divinas.
Contudo, é preciso afirmar também que a igreja (como povo de Deus) é o ambiente natural da vida cristã. A tese combate o sectarismo, mas não deve transformar-se em individualismo espiritual.
Conclusão
As sete proposições analisadas representam tensões hermenêuticas legítimas, ainda que, em vários casos, expressas de maneira simplificada ou provocativa. A teologia tem a responsabilidade de:
distinguir entre tradição e texto bíblico;
reconhecer desenvolvimentos históricos sem ignorar princípios bíblicos;
evitar reducionismos;
dialogar com as Escrituras com profundidade e honestidade intelectual.
Essas teses, quando tratadas com rigor, ajudam a fé cristã a recuperar seu centro: Cristo, o Verbo, revelado pelas Escrituras e vivido na comunidade.
Fontes de consulta:
- Bíblia Sagrada versão King James Atualizada;
- Maturidade Cristã, JUERP;
- Introdução Bíblica – J. Cabral;
- Apostilas de Eclesiologia e Hermenêutica do Curso Bacharel em Teologia da Faculdade Teológica Charisma; e
- YouTube – https://www.youtube.com/.
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