DA SOTERIOLOGIA: NEM CALVINISTA E NEM ARMINIANO - TODOS ESTÃO PREDESTINADOS EM CRISTO À SALVAÇÃO
Dr. Gustavo Maders de Oliveira
Bacharel
em Teologia (Curso Livre) pela Faculdade Teológica Charisma
Mestre e Doutor em Missiologia (Cursos Livres) pela Faculdade
Teológica e Cultural da Bahia
Resumo
Este breve artigo propõe uma análise teológica que transcende os sistemas doutrinários de Calvino e Armínio, defendendo que a predestinação bíblica não deve ser entendida como escolha arbitrária de indivíduos para a salvação ou condenação, mas como um chamado universal em Cristo. Fundamentando-se em Efésios 1:3-6 e outros textos paulinos, argumenta-se que todos foram predestinados à salvação por meio de Cristo, sendo a fé a resposta humana a essa eleição coletiva. Busca-se, assim, uma abordagem bíblica equilibrada, evitando reducionismos teológicos e reconhecendo a centralidade de Cristo no plano redentivo de Deus.
Palavras-chave: Predestinação; Eleição; Soteriologia; Cristo; Teologia Bíblica.
Introdução
O debate entre calvinismo e arminianismo tem marcado a história da teologia cristã, especialmente no que diz respeito ao tema da predestinação. Enquanto a tradição calvinista enfatiza a eleição incondicional de indivíduos para a salvação ou condenação, a tradição arminiana defende o livre-arbítrio humano como resposta determinante ao chamado divino (OLSON, 2009). Contudo, ambas as perspectivas frequentemente se distanciam do texto bíblico ao absolutizarem seus pressupostos filosóficos. Este artigo defende que a Escritura apresenta a predestinação como um ato coletivo e cristocêntrico: todos estão predestinados em Cristo para a vida eterna, e a rejeição desse plano é fruto da incredulidade humana (Ef 1:4-5; Jo 3:16-18).
1. A predestinação em Cristo: perspectiva bíblica
O apóstolo Paulo, em Efésios 1:3-6, declara que Deus “nos elegeu nele [Cristo] antes da fundação do mundo” e que “nos predestinou para sermos adotados como filhos”. A ênfase recai não sobre indivíduos escolhidos isoladamente, mas sobre a comunidade dos que estão em Cristo (WALLACE, 2015). Em outras palavras, a eleição é corporativa e encontra seu cumprimento exclusivamente na união com Cristo. Assim, todo ser humano é potencialmente incluído nesta eleição, pois Cristo morreu por todos (2Co 5:14-15).
Essa visão não elimina a responsabilidade humana. Embora todos estejam predestinados em Cristo, a salvação só se efetiva na vida de quem responde em fé ao Evangelho (Rm 10:9-10). A incredulidade, portanto, não é produto de um decreto divino, mas resultado da resistência humana ao chamado de Deus (Mt 23:37).
2. A insuficiência das posições calvinista e arminiana
O calvinismo, ao afirmar a dupla predestinação, incorre no risco de apresentar Deus como parcial, elegendo uns para a salvação e condenando outros antes mesmo de nascerem (SPROUL, 2017). Por outro lado, o arminianismo, ao absolutizar o livre-arbítrio, pode minimizar a graça preveniente e a soberania de Deus (OLSON, 2009). Cabe lembrar que a fé vem pelo ouvir da Palavra de Deus (Rm 10:17), e que quem convence o mundo do pecado, da justiça e do juízo é o Espírito Santo (Jo 16:8). Ambos os sistemas, ainda que com contribuições significativas, tendem a dividir a obra de Deus e a responsabilidade humana em categorias rígidas que a Bíblia não sustenta de forma explícita.
A Escritura aponta para uma síntese: a salvação é, do começo ao fim, obra de Deus em Cristo (Jo 6:44; Ef 2:8-9), mas a condenação é consequência da rejeição humana ao dom divino (Jo 3:18-19). Nesse sentido, a predestinação não é uma seleção de indivíduos, mas o decreto divino de que todo aquele que crer em Cristo será salvo.
3. Implicações missiológicas e eclesiológicas
Entender que todos estão predestinados em Cristo amplia a responsabilidade missionária da Igreja. O Evangelho deve ser pregado a toda criatura (Mc 16:15), pois Deus deseja que todos se salvem (1Tm 2:3-4). Tal compreensão remove o fatalismo de certas correntes calvinistas e a insegurança de algumas interpretações arminianas, oferecendo uma base sólida para a proclamação universal da graça de Deus. Noutras palavras, a operacionalização do processo salvífico passa pela proclamação universal do Evangelho da Graça.
Conclusão
A predestinação bíblica não deve ser reduzida aos paradigmas calvinista ou arminiano. A Escritura ensina que todos foram predestinados em Cristo para a salvação, sendo a fé a resposta que torna essa eleição eficaz. Esta perspectiva preserva tanto a soberania de Deus quanto a responsabilidade humana, ao mesmo tempo que fortalece o compromisso missionário da Igreja. Em vez de dividir a comunidade cristã em sistemas doutrinários, essa compreensão une os crentes em torno de Cristo, o centro da predestinação divina.
Esta é, por fim, a posição soteriológica deste autor. Não há pretenção em dirimir opiniões de calvinistas, nem tampouco de arminianos. Antes, promover a paz e a união entre "partidos" soteriológicos, que dividem a Igreja de Cristo em fragmentos, por falta de uma exegese mais aprofundada dos textos bíbicos referenciados neste breve artigo.
Referências
OLSON, Roger E. Arminian Theology: Myths and Realities. Downers Grove: IVP Academic, 2009.
SPROUL, R. C. Chosen by God. Wheaton: Tyndale House, 2017.
WALLACE, Daniel B. Greek Grammar Beyond the Basics. Grand Rapids: Zondervan, 2015.
A BÍBLIA. Português. Almeida Revista e Atualizada. 2. ed. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
GEMINI – IA. Google. Consultado em 16/07/2025.
18/07/2025
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