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Planos de Esperança - a voz de Deus em meio ao cativeiro

  PLANOS DE ESPERANÇA: A VOZ DE DEUS EM MEIO AO CATIVEIRO - UMA LEITURA TEOLÓGICA DE JEREMIAS 29:11-13 Dr. Gustavo Maders de Oliveira Bacharel em Teologia pela Faculdade Teológica Charisma Mestre e Doutor em Missiologia pela Faculdade Teológica e Cultural da Bahia   Resumo Este artigo propõe uma análise teológica de Jeremias 29:11-13, um dos trechos mais citados da literatura profética do Antigo Testamento. Frequentemente utilizado em contextos devocionais e motivacionais, este texto é, na verdade, parte de uma carta dirigida aos exilados judeus na Babilônia. O objetivo deste estudo é resgatar o contexto original e extrair implicações teológicas autênticas, contrastando promessas divinas com expectativas humanas. O foco será o propósito redentor de Deus, a centralidade da busca sincera e a esperança fundamentada na aliança. 1. Introdução Jeremias 29:11-13 é, para muitos cristãos contemporâneos, uma promessa de prosperidade e futuro promissor. Contudo, ao ...

Corpus Christi à Luz da Teologia Protestante

 

CORPUS CHRISTI À LUZ DA TEOLOGIA PROTESTANTE:

UMA ANÁLISE TEOLÓGICO-HISTÓRICA


Dr. Gustavo Maders e Oliveira, Th.B., M.Miss., D.Miss.

 

Resumo:
Este artigo analisa a celebração de Corpus Christi à luz da teologia protestante. Considerando suas origens no catolicismo romano e seu fundamento na doutrina da transubstanciação, o estudo propõe um contraste com a teologia reformada, que rejeita tal entendimento e adota diferentes perspectivas sobre a Ceia do Senhor. A análise inclui a visão de reformadores como Lutero, Calvino e Zwinglio, além de implicações contemporâneas para a prática eclesiástica protestante.

Palavras-chave: Corpus Christi; Ceia do Senhor; Teologia Protestante; Transubstanciação; Reforma.

1. Introdução

A solenidade de Corpus Christi é uma celebração católica instituída no século XIII para exaltar a presença real de Cristo na Eucaristia. Já a teologia protestante, fruto da Reforma do século XVI, apresenta divergências fundamentais em relação ao entendimento e à prática da Ceia do Senhor. Este estudo objetiva contrastar essas perspectivas, destacando fundamentos bíblicos e doutrinários.

2. Origem e Significado do Corpus Christi

Corpus Christi, do latim "Corpo de Cristo", foi instituído pelo papa Urbano IV em 1264, após os relatos místicos da freira Juliana de Liège e o milagre de Bolsena. A festa reafirma a doutrina da transubstanciação, segundo a qual o pão e o vinho consagrados tornam-se o corpo e o sangue de Cristo.

“Na celebração da missa, sob as espécies do pão e do vinho, está presente verdadeira, real e substancialmente o corpo e o sangue de Cristo” (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 1993, §1374).

A festa envolve procissões públicas com o ostensório, como forma de adoração ao sacramento.

3. A Teologia Protestante e a Ceia do Senhor

A Reforma Protestante contestou a transubstanciação com base em princípios bíblicos e teológicos. A Sola Scriptura levou os reformadores a reinterpretarem a Ceia do Senhor.

3.1. Lutero: Presença real espiritual

Martinho Lutero rejeitou a transubstanciação, mas manteve a presença real de Cristo no pão e no vinho, sob a forma da consubstanciação. Cristo está presente "em, com e sob" os elementos.

“Este é o meu corpo” deve ser aceito literalmente, mas sem transformar substâncias (LUTERO, 1528).

3.2. Zwinglio: Memorial simbólico

Ulrico Zwinglio defendeu que a Ceia é um memorial simbólico, em conformidade com as palavras de Jesus: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22.19).

“O pão é símbolo do corpo de Cristo; não há presença real, mas espiritual” (ZWINGLIO, 1525).

3.3. Calvino: Presença espiritual

João Calvino mediou entre Lutero e Zwinglio. Para ele, Cristo está espiritualmente presente na Ceia por meio da fé, e os crentes participam misticamente do corpo de Cristo.

“Cristo é verdadeiramente dado, mas não local ou fisicamente, e sim pela ação do Espírito” (CALVINO, 1541).

4. Corpus Christi à luz da Bíblia e da Reforma

A doutrina da transubstanciação tem como base principal João 6.51-56 e a tradição eclesiástica. No entanto, a teologia reformada argumenta que esses textos devem ser interpretados à luz do contexto simbólico e espiritual da fé cristã.

“O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida” (Jo 6.63).

A Reforma rejeitou o culto eucarístico (como a adoração da hóstia consagrada), considerando-o idolatria, por atribuir divindade a um elemento criado.

5. Considerações Contemporâneas

Atualmente, igrejas protestantes (históricas e evangélicas) não celebram o Corpus Christi como data litúrgica. No entanto, a Ceia do Senhor permanece uma ordenança central, ainda que com diferentes interpretações e frequências. O contraste continua a refletir divergências profundas entre as compreensões sacramentais do catolicismo e do protestantismo.

6. Considerações Finais

O Corpus Christi representa uma teologia centrada na presença substancial de Cristo na Eucaristia, algo rejeitado pela teologia protestante desde a Reforma. Para os reformadores, a Ceia é um memorial ou um meio de comunhão espiritual, não um sacrifício repetido nem uma presença física. O estudo dessas diferenças é essencial para o diálogo interconfessional e para a compreensão histórica da fé cristã.

Referências

CALVINO, João. Institutas da religião cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 2006.

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. São Paulo: Loyola, 1993.

GONZÁLEZ, Justo L. História do pensamento cristão. Vol. 2. São Paulo: Edições Vida Nova, 2010.

LUTERO, Martinho. O cativeiro babilônico da Igreja. São Leopoldo: Sinodal, 2001.

MCGRATH, Alister E. Teologia histórica: uma introdução à história do pensamento cristão. São Paulo: Shedd, 2017.

ZWINGLIO, Ulrico. Do verdadeiro e falso religião. São Paulo: Fonte Editorial, 2014.




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