A IMPORTÂNCIA DO GENOMA
Genoma é a sequência completa do DNA (ácido desoxirribonucleico) de um organismo, ou seja, o conjunto de todos os genes de um ser vivo. Estudar o genoma é como estudar a anatomia molecular de uma espécie.
O DNA é uma molécula constituída por nucleotídeos que apresenta como função armazenar as informações genéticas de suas bases nitrogenadas. Os genes são comumente definidos como trechos de DNA que apresentam as informações necessárias para a produção de proteínas. Vale destacar que os genes também incluem sequências de nucleotídeos necessários para a síntese de outros tipos de RNA (ácido riboxorribonucléico).
Conhecer os genes de uma espécie pode trazer informações valiosas sobre um ser vivo, os processos normais que nele ocorrem e até mesmo os genes que podem desencadear doenças. No caso de seres humanos, testes genéticos que analisam o genoma de um indivíduo podem fornecer informações sobre doenças que ainda não se manifestaram e os possíveis riscos de desenvolvimento da enfermidade. Desse modo, conhecer os genes ajuda no diagnóstico e também na identificação da predisposição genética para certos problemas. Além de encontrar possíveis doenças, conhecer os conjuntos de genes humanos ajuda na criação de medicamentos para diversos grupos de indivíduos, evitando, portanto, reações adversas graves. O conhecimento sobre os genes abre portas ainda para a terapia gênica, em que genes normais são usados para substituir os defeituosos.
Vale destacar que conhecer o genoma de outros organismos também é importante, pois fornece respostas para várias perguntas nos diversos campos da ciência. Os genes podem mostrar, por exemplo, o processo evolutivo e ajudar a criar culturas resistentes.
O Projeto Genoma Humano iniciou-se em 1990 e tinha como objetivo determinar a sequência de todas as bases do DNA genômico e identificar e mapear os genes distribuídos em nossos 23 pares de cromossomos. Os pesquisadores armazenariam essas informações em bancos de dados e desenvolveriam ferramentas que propiciassem a análise detalhada de cada uma. A princípio, esperava-se que todos esses objetivos fossem alcançados após 15 anos de estudo. Entretanto, com o avanço da tecnologia, o projeto teve suas atividades finalizadas após 13 anos, em 2003. Entre os resultados obtidos no processo, podemos destacar a descoberta dos 3,2 bilhões de nucleotídeos que compõem o genoma humano e a identificação da função de cerca de 50% deles. Também é importante destacar que foi possível concluir que a sequência do genoma humano é 99,9% igual em todos os indivíduos. Curiosidade: O primeiro genoma a ser sequenciado foi o da bactéria Haemophilus influenzae, em 1995. Hoje se conhece o genoma de várias espécies, inclusive o da espécie humana. Importante observar que nem sempre os genomas são de DNA. O genoma de vírus pode ser de RNA— e muito se falou disso nos últimos dois anos, por exemplo, com o surgimento do coronavírus (sars-cov-2) e suas variantes, causando a pandemia.
É um “novo mundo”, define Maria Cátira1, repleto de possibilidades, como a da comparação de genomas entre diferentes espécies. A professora da UFRGS trabalha com primatas e resume parte das práticas em laboratório:
- Comparamos todo dia, todo o tempo, os genomas de espécies de interesse. Conseguimos desvendar o que é exclusividade humana, o que não é, o que nos diferencia de parentes mais próximos. Sabemos quais são as regiões do genoma impactadas no momento em que os humanos deixam de ser caçadores coletores para se tornarem agriculturalistas. É (um avanço em) progressão geométrica!
A interdisciplinaridade, com a biologia e a genética “conversando” com uma diversidade de outras especialidades, é mais um aspecto marcante na área da pesquisa genética.
— Não conseguimos mais analisar os dados sem pensar em bioinformática, em inteligência artificial. É muita informação, uma super quantidade de dados. Precisamos da inteligência artificial para nos ajudar a interpretá-los — explica Maria Cátira.
A bióloga Maria Cátira crê ser importante, com o auxílio das novas ferramentas de bioinformática e inteligência artificial, estabelecer relações precisas entre genótipo (conjunto das informações genéticas) e fenótipo (características observáveis, como as físicas).
Este autor se posiciona na fronteira entre o genoma e os métodos mais biologicamente conservadores. Existe um limite tênue entre o cientificamente ético e o não. Enquanto a Engenharia Genética produzir plantas mais resistentes às pragas, produzir animais mais saudáveis e resistentes, ou produzir células tronco, a busca da cura de doenças ,o genoma é salutar. O receio é quando ultrapassa esse limite ético, produzindo vírus em laboratório, clonando órgãos humanos, sem limites, buscando, por fim, reproduzir um ser humano – o que só não ocorreu nos anos 90 pela intervenção, principalmente da Igreja2. Foi o Vaticano o principal opositor da clonagem humana, em qualquer escala. Obviamente não foi o único a se opor.
É bom que o homem cresça em conhecimento, mesmo que esse conhecimento seja secular. A Bíblia não o condena totalmente. Em Eclesiastes, vemos o autor apenas alertando para o exagero desse conhecimento. “E apliquei o meu coração a conhecer a sabedoria, e a conhecer os desvarios e as loucuras, e vim a saber que isto era aflição de espírito. Porque na muita sabedoria há muito enfado, e o que aumenta em conhecimento aumenta em dor”. (Eclesiastes 1:17-18).
Imprescindível é que o homem se preocupe com a cura das doenças, mesmo que para isso utilize unicamente meios técnico-científicos (transplantes, clonagens, etc.). Neste sentido, estamos certos de que os idealizadores dessas técnicas estão primeiramente pensando no bem-estar das pessoas que irão fazer uso e se beneficiar no futuro dessa tecnologia. Mas sabemos também que, não só no Brasil, mas no mundo inteiro, a legislação científica normalmente é lenta. Dificilmente consegue acompanhar de perto os avanços da tecnologia e da ciência.
Por derradeiro, sabemos que a ciência não retroage, ela avança, a passos largos. Espera-se, como cristãos, que haja ética nos procedimentos; que descubram curas para as doenças, que desenvolvam a medicina (enquanto biologia) em favor dos homens, que descubram novos medicamentos, que desenvolvam plantas e animais com genéticas melhores, desenvolvendo a agronomia a a medicina veterinária, mas que em tudo haja o temor do Senhor, que é o princípio da sabedoria (Provérbios 9:10).
1Maria Cátira - Bióloga da UFRGS.
2 A clonagem artificial realizada em laboratório, seja a reprodutiva ou terapêutica, não é admitida pela igreja católica. A Pontifícia Academia Pro Vita do Vaticano já se pronunciou condenando taxativamente qualquer reprodução via clonagem, tanto para finalidades reprodutivas, quanto para finalidades terapêuticas.
Prof. Dr. Gustavo Maders de Oliveira
5 de setembro de 2022
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