Pular para o conteúdo principal

Do Éden ao Getsêmani

  DO ÉDEN AO GETSÊMANI: UMA LEITURA TEOLÓGICA DA QUEDA E DA REDENÇÃO Dr. Gustavo Maders de Oliveira Bacharel em Teolgia, Mestre e Doutor em Missiologia Resumo: Este artigo analisa a relação entre o Jardim do Éden e o Jardim do Getsêmani sob uma perspectiva teológica, destacando como esses dois cenários marcam polos opostos na história da humanidade: a queda e a redenção. Enquanto no Éden a humanidade escolheu a desobediência, no Getsêmani Cristo, como o “último Adão”, reafirmou a obediência ao Pai, revertendo os efeitos do pecado. A pesquisa apresenta pontos de convergência entre os dois episódios, enfatizando o contraste entre a vontade humana e a divina, a presença de anjos, o simbolismo das árvores e o impacto universal das escolhas feitas em cada jardim. Palavras-chave: Éden. Getsêmani. Obediência. Queda. Redenção. 1. Introdução A narrativa bíblica apresenta dois jardins centrais na compreensão da história da salvação: o Jardim do Éden (Gn 2–3) e o Jardim ...

A Exegese de Mateus 24: entre o já e o ainda não da profecia escatológica

 

A EXEGESE DE MATEUS 24: ENTRE O JÁ E O AINDA NÃO DA PROFECIA ESCATOLÓGICA


Dr. Gustavo Maders de Oliveira

Bacharel em Teologia; Mestre e Doutor em Missiologia (Cursos Livres)

RESUMO

Este artigo propõe uma análise exegética, teológica e escatológica de Mateus 24, conhecido como o “Discurso do Monte das Oliveiras”. O texto combina elementos de profecias cumpridas, especialmente a destruição do Templo de Jerusalém em 70 d.C., com profecias escatológicas ainda por se cumprir, como a segunda vinda de Cristo. Por meio de uma abordagem histórico-gramatical e literária, busca-se compreender o significado do texto original e sua aplicação para a fé cristã contemporânea. O estudo inclui um quadro cronológico que distingue os eventos passados, presentes e futuros, conforme revelados por Cristo neste discurso.

Palavras-chave: Mateus 24; Escatologia; Exegese; Segunda vinda; Destruição do Templo; Teologia bíblica.

1. INTRODUÇÃO

O capítulo 24 do Evangelho segundo Mateus é um dos textos mais relevantes e controversos do Novo Testamento no que diz respeito à escatologia. Inserido no contexto do ministério final de Jesus em Jerusalém, este discurso profético responde às indagações dos discípulos quanto ao futuro do Templo e ao fim dos tempos. Ao analisar Mateus 24, deve-se atentar tanto ao seu contexto imediato quanto ao seu paralelo nos evangelhos sinóticos (Mc 13; Lc 21). A linguagem figurada, típica do gênero apocalíptico, impõe o desafio de interpretar corretamente os elementos que apontam para eventos históricos e os que antecipam o juízo escatológico.

2. CONTEXTO HISTÓRICO E LITERÁRIO

O discurso profético de Mateus 24 ocorre logo após o capítulo 23, onde Jesus denuncia os líderes religiosos de Israel e profetiza a desolação do Templo. O contexto histórico aponta para a tensão crescente entre o império romano e os judeus, culminando na destruição do Templo em 70 d.C. (JOSEFO, 2001). Literariamente, Mateus agrupa cinco grandes discursos de Jesus, e o de Mateus 24 é o último, preparando o leitor para a paixão e ressurreição.

3. EXEGESE DETALHADA

3.1. Mateus 24.1–2: A profecia da destruição do Templo

Jesus profetiza que “não ficará aqui pedra sobre pedra” (v. 2), antecipando a destruição literal do Templo em 70 d.C. A linguagem é clara e literal, mas também simbólica da substituição da Antiga Aliança pela Nova Aliança em Cristo (cf. Hb 8.13).

3.2. Mateus 24.3: Três perguntas escatológicas

Os discípulos fazem três perguntas:

  1. Quando sucederão estas coisas?

  2. Qual o sinal da tua vinda?

  3. E do fim do mundo?

A resposta de Jesus não é linear, mas apresenta sobreposição de eventos locais (judáicos) e universais (escatológicos).

3.3. Mateus 24.4–14: Sinais preliminares e dores de parto

Jesus fala de guerras, fomes, terremotos e perseguições, mas afirma que isso ainda “não é o fim” (v. 6). Trata-se de uma escatologia inaugurada, indicando que o mundo experimentará convulsões até o fim. A perseverança dos santos (v. 13) e a pregação global do Evangelho (v. 14) são condições que antecedem o fim. Existe uma analogia dos eventos às dores de parto de uma mulher a dar à luz: cada vez mais frequente e cada vez mais intensa. Assim serão os sinais, continuamente aumentarão em intensidade e frequência.

3.4. Mateus 24.15–28: A grande tribulação

Jesus cita Daniel e o “abominável da desolação” (Dn 9.27), um evento já cumprido parcialmente com a profanação do Templo por Antíoco IV Epifânio e, depois, pelo general Tito em 70 d.C. Contudo, o texto parece apontar para uma repetição futura, possivelmente ligada ao Anticristo escatológico (2Ts 2.3–4).

3.5. Mateus 24.29–31: O retorno glorioso de Cristo

Aqui o texto salta para um evento de caráter universal e cósmico. A linguagem (“o sol escurecerá... o Filho do Homem virá nas nuvens”) remete a passagens de Daniel 7.13 e Isaías 13.10. Os anjos reunirão os eleitos de toda a terra — uma referência inequívoca à segunda vinda de Cristo.

3.6. Mateus 24.32–35: A parábola da figueira

A figueira simboliza os sinais que anunciam a proximidade da vinda. A geração mencionada no v. 34 pode ser entendida como a geração contemporânea de Jesus (referente à destruição do Templo) ou a geração escatológica que verá os últimos sinais.

3.7. Mateus 24.36–51: Vigilância e fidelidade

Jesus ensina que ninguém sabe o dia nem a hora (v. 36), nem mesmo os anjos. Compara sua vinda aos dias de Noé, nos quais a maioria estava desatenta. A ênfase é na vigilância, mordomia e fidelidade, não em calcular datas.

4. QUADRO CRONOLÓGICO DOS EVENTOS DE MATEUS 24

Evento Profetizado

Cumprimento Histórico

Cumprimento Futuro

Referência

Destruição do Templo

70 d.C. (Tito)

Mt 24.2

Falsos cristos e guerras

Desde o 1º século até hoje

Continuará

Mt 24.5–6

Fome, terremotos e pestes

Constantes na história humana

Continuará

Mt 24.7–8

Perseguição aos cristãos

Desde a igreja primitiva

Intensificará

Mt 24.9

Pregação do evangelho ao mundo

Em progresso

Ainda em curso

Mt 24.14

“Abominação da desolação” no Templo

70 d.C. (Tito)

Possível repetição futura

Mt 24.15

Grande tribulação

Jerusalém (70 d.C.)/fim dos tempos

Clímax escatológico

Mt 24.21

Sinais cósmicos

Escatológico

Mt 24.29

Segunda vinda de Cristo

Futura

Mt 24.30

Reunião dos eleitos

Futuro (arrebatamento?)

Mt 24.31

Vigilância e juízo

Aplica-se até a consumação

Mt 24.36–51

5. CONCLUSÃO

A exegese de Mateus 24 revela uma escatologia de tensão entre o “já” e o “ainda não”. Algumas profecias se cumpriram com a destruição do Templo em 70 d.C., outras apontam para a segunda vinda de Cristo. A mensagem não visa satisfazer curiosidades cronológicas, mas exortar à perseverança, santidade e prontidão diante do retorno iminente do Senhor. A fidelidade à missão, expressa na proclamação do evangelho a todas as nações, é a maior implicação prática desse texto para a Igreja contemporânea.

REFERÊNCIAS

  • BEALE, G. K. A New Testament Biblical Theology. Grand Rapids: Baker Academic, 2011.

  • CARSON, D. A. Expositor’s Bible Commentary: Matthew. Grand Rapids: Zondervan, 1995.

  • JOSEFO, Flávio. A Guerra dos Judeus. São Paulo: CPAD, 2001.

  • LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2001.

  • STOTT, John. A Mensagem do Sermão do Monte. São Paulo: ABU Editora, 1984.

  • WRIGHT, N. T. Surpreendido pela Esperança. São Paulo: Ultimato, 2008.




25/07/2025

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Pré, Mid ou Pós-Tribulacionismo?

  TEOLOGIA SISTEMÁTICA – ESCATOLOGIA TRIBULACIONISMO O termo “tribulacionismo” refere-se a uma crença ou doutrina dentro do Cristianismo que se concentra no período da tribulação, um tempo de grande sofrimento e provações mencionadas na Bíblia, especialmente no livro do Apocalipse. Existem diferentes interpretações sobre quando ocorrerá esse período em relação ao retorno de Jesus Cristo. I - Pré-tribulacionismo O pré-tribulacionismo é uma doutrina teológica que afirma que a Segunda Vinda de Jesus Cristo (parousia 1 ) ocorrerá em duas fases distintas: primeiro, Ele virá secretamente para arrebatar sua igreja (os cristãos fiéis) da Terra antes de um período de tribulação de sete anos. Este período será um tempo de julgamento e sofrimento para aqueles que não aceitaram a Cristo como seu salvador. As bases bíblicas mais comuns para o pré-tribulacionismo incluem: 1 Tessalonicenses 4:16-17 : Esta passagem descreve a ressurreição dos mortos em Cristo e o ar...

MALDIÇÃO HEREDITÁRIA - Refutação à luz da Bíblia Sagrada

  MALDIÇÃO HEREDITÁRIA Refutação à luz da Bíblia Sagrada Dr. Gustavo Maders de Oliveira, Th.B., M.Miss., D.Miss. A maldição hereditária é a crença de que certos problemas ou eventos negativos podem ser transmitidos de geração em geração dentro de uma família. Essa ideia sugere que as ações ou pecados dos antepassados podem afetar negativamente os descendentes, criando uma espécie de “herança” espiritual ou energética. No contexto religioso, especialmente nalguns grupos evangélicos, acredita-se que essas maldições podem ser quebradas através de orações e rituais específicos. No entanto, há debates teológicos sobre a validade dessa crença, com algumas interpretações bíblicas sugerindo que cada pessoa é responsável pelos seus próprios atos e não deve carregar os pecados dos pais. O texto áureo da crença na maldição hereditária é Êxodo 20:5 : "Não te inclinarás a elas, nem as servirás; porque eu sou o Senhor, teu Deus, Deus zeloso, que visita a iniquidade do...

As 3 viagens missionárias de Paulo

  AS TRÊS VIAGENS MISSIONÁRIAS DO APÓSTOLO PAULO As três viagens missionárias do Apóstolo Paulo são cruciais para entender a disseminação inicial do Cristianismo no mundo greco-romano. Aqui está um resumo das três viagens: Primeira Viagem Missionária (46-49 d.C.) - Atos 13 A primeira viagem missionária de Paulo começou por volta de 46 d.C., pouco após a conversão de Paulo ao cristianismo. Ele partiu de Antioquia da Síria, acompanhado por Barnabé e, mais tarde, por João Marcos. Esta jornada foi uma resposta ao chamado divino para pregar o Evangelho aos gentios. Principais paradas incluíram Chipre, onde pregaram em Salamina e Pafos, e várias cidades na Ásia Menor (atual Turquia), como Antioquia da Pisídia, Icônio, Listra e Derbe. Durante esta viagem, Paulo enfrentou tanto aceitação quanto resistência. Ele enfrentou perseguição e hostilidade, especialmente daqueles que se opunham ao Evangelho. No entanto, muitos gentios e alguns judeus se converteram ao cristianismo, f...