A NATUREZA MORAL DO SER HUMANO SEGUNDO A BÍBLIA
Dr. Gustavo Maders de Oliveira
Bacharel
em Teologia (Faculdade Teológica Charisma)
Mestre e Doutor em
Missiologia (Faculdade Teológica e Cultural da Bahia)
Resumo:
Este artigo aborda a
natureza moral do ser humano à luz da Bíblia, com foco na condição
pós-queda descrita nas Escrituras. A análise revela que, embora o
homem tenha sido criado à imagem de Deus, sua essência foi
corrompida pelo pecado, o que implica uma inclinação natural ao
mal. O estudo baseia-se em textos do Antigo e do Novo Testamento,
demonstrando que, segundo a teologia bíblica, o ser humano necessita
da redenção divina para a restauração de sua verdadeira natureza.
Palavras-chave: natureza humana; pecado original; antropologia bíblica; redenção; teologia.
1. Introdução
A questão da natureza moral do ser humano é central na antropologia teológica cristã. As Escrituras apresentam uma tensão entre a dignidade original da criação humana e a corrupção moral resultante da queda. Este artigo busca analisar essa tensão à luz da Bíblia, respondendo à pergunta: o ser humano é essencialmente bom ou mau?
2. A Criação do Homem: Dignidade e Imagem de Deus
O relato da criação em Gênesis apresenta o ser humano como uma criatura singular, feita à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26-27). Essa condição confere ao homem dignidade e responsabilidade moral.
"Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou" (Gn 1.27).
A imago Dei (imagem de Deus) não implica perfeição moral, mas representa a capacidade relacional, racional e espiritual conferida ao ser humano por Deus.
3. A Queda e a Corrupção da Natureza Humana
Com a desobediência de Adão e Eva, o pecado entrou no mundo, trazendo consigo a morte e a corrupção da natureza humana:
"Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram" (Rm 5.12).
A queda provocou um rompimento entre Deus e o homem, afetando todas as dimensões da existência humana. O salmista reconhece essa realidade ao afirmar:
"Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe" (Sl 51.5).
4. A Natureza Pecaminosa no Ensino Profético e Paulino
A doutrina do pecado encontra eco em diversos textos proféticos. Jeremias afirma:
"Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?" (Jr 17.9).
O apóstolo Paulo, em sua exposição teológica em Romanos, é categórico:
"Não há justo, nem um sequer. Não há quem entenda; não há quem busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só" (Rm 3.10-12).
Essa visão é reforçada em Efésios:
"Estando vós mortos nos vossos delitos e pecados [...] entre os quais todos nós também antes andávamos segundo as inclinações da nossa carne" (Ef 2.1-3).
5. Redenção e Restauração da Natureza Humana
Apesar da condição pecaminosa, a Bíblia apresenta a possibilidade de redenção e renovação por meio de Jesus Cristo. Paulo declara:
"Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo" (2Co 5.17).
A salvação em Cristo não apenas perdoa os pecados, mas inicia um processo de restauração da imagem de Deus no ser humano, por meio da regeneração e santificação.
6. Conclusão
A Bíblia ensina que o ser humano não é essencialmente bom, embora tenha sido criado com dignidade e valor. A queda comprometeu sua natureza moral, tornando-o inclinado ao mal e espiritualmente morto. Contudo, mediante a graça de Deus, há possibilidade de redenção e restauração da verdadeira natureza humana em Cristo.
Uma questão toca em um tema teológico profundo: como conciliar a doutrina bíblica da natureza pecaminosa do ser humano com exemplos de pessoas amplamente reconhecidas por sua bondade, como Madre Tereza de Calcutá? 1º De acordo com a Bíblia, todos os seres humanos, independentemente de suas ações externas, nascem com uma natureza pecaminosa herdada de Adão: Romanos 3:23; Romanos 3:10. Essa doutrina não está negando que pessoas possam realizar boas ações sociais ou morais, mas afirma que, diante da santidade de Deus, ninguém é moralmente perfeito ou justo por mérito próprio. A bondade humana, por mais admirável que seja, não anula a necessidade de redenção. 2º Boas obras não são provas de ausência de pecado. Pessoas como Madre Teresa podem, sem dúvida, ser exemplos de compaixão, altruísmo e serviço ao próximo. No entanto, isso não significa que eram moralmente perfeitas ou isentas da natureza pecaminosa. A Bíblia ensina que até nossas “boas obras” são insuficientes para alcançar a justiça diante de Deus: Isaías 64:6. Portanto, não se trata de afirmar que alguém como Madre Teresa era "má" no sentido comum da palavra, mas sim reconhecer que toda pessoa, por mais virtuosa que seja aos olhos humanos, ainda necessita da graça salvadora de Cristo.
Referências
BÍBLIA. Português. ARA. Bíblia Sagrada. Almeida Revista e Atualizada. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993.
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2020.
HODGE, Charles. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2001.
SHEED, F. J. Teologia para principiantes. São Paulo: Quadrante, 2012.
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